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Obras completas de Sigmund Freud para Download

  • Foto do escritor: Raphael Prazeres
    Raphael Prazeres
  • 23 de out.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 23 de out.

Obras completas Sigmund Freud para download PDF

Há leituras que nos formam.

A primeira vez que li a obra completa de Freud foi numa edição antiga da Imago — aqueles volumes de capa dura, papel amarelado pelo tempo, cheiro de livro que viveu. Era a coleção dos meus pais, também analistas, e cada página trazia algo mais precioso que o texto impresso: as anotações à margem, os grifos nervosos, as interrogações rabiscadas com a caligrafia apressada do meu pai.

Ler Freud assim foi como ler em camadas. Não era apenas o pensamento freudiano se desdobrando diante de mim — era também o pensamento do meu pai em diálogo com Freud, suas concordâncias silenciosas sublinhadas em lápis, suas discordâncias anotadas com pontos de exclamação. Ali, naquelas margens estreitas, eu descobria não só a psicanálise, mas o que significava pensar psicanaliticamente.

Foi nesse encontro entre o texto e seus fantasmas marginais que nasci como analista. Cada rabisco era um convite: "continue daqui, veja o que eu vi, ou veja diferente". E eu via. E anotava por cima. E a obra se tornava nossa, uma conversa entre gerações mediada pelo velho Freud.

O escritor Freud

O que pouca gente te conta sobre Freud é que ele foi, antes de tudo, um escritor extraordinário. Em 1930, ganhou o Prêmio Goethe de Literatura — não de medicina, não de ciência, mas de literatura. O júri reconheceu nele não apenas o pensador, mas o artista da palavra, o arquiteto de frases que carregam em si toda a ambiguidade e densidade da experiência humana.

Freud escrevia como quem esculpe. Seus textos têm ritmo, suspense, reviravoltas dramáticas. Ele constrói casos clínicos como quem narra contos policiais — o sintoma é o crime, e a análise é a investigação que vai revelando, camada por camada, os motivos secretos, os desejos proibidos, as cenas esquecidas. "Dora", "O Homem dos Ratos", "O Homem dos Lobos" não são apenas casos clínicos: são narrativas densas, quase literárias, onde cada detalhe conta.

E tem a ironia. Aquele humor judaico, vienense, que atravessa mesmo os textos mais densos. Em "O chiste e sua relação com o inconsciente", Freud analisa piadas com a mesma seriedade com que analisa sonhos — e no processo, nos faz rir e pensar ao mesmo tempo. Ele tinha o dom raro de unir profundidade e leveza, de falar sobre o trágico sem perder a elegância.

Ler Freud é também ler Thomas Mann, Goethe, Sófocles, Shakespeare — todos eles atravessam suas páginas. É ler mitologia grega recontada à luz do inconsciente. É ler filosofia sem o peso da academia. É encontrar, no meio de um ensaio sobre o aparelho psíquico, uma citação de Heine ou uma referência a Mozart.

A riqueza dessa obra

A obra freudiana é um universo. São cartas íntimas onde ele confessa dúvidas e angústias. São textos clínicos que revolucionaram a forma como entendemos o sofrimento humano. São ensaios sobre arte, onde ele analisa a Moisés de Michelangelo ou os quadros de Leonardo da Vinci com olhar de quem entende que toda criação artística é também sintoma, sublimação, enigma.

Tem os grandes textos sobre cultura: "O mal-estar na civilização", onde Freud se pergunta por que, afinal, construímos sociedades que nos fazem sofrer. "Totem e tabu", onde ele especula sobre as origens da religião e da moral. "O futuro de uma ilusão", onde questiona se a humanidade conseguirá um dia viver sem as consolações religiosas.

E tem os textos que mudaram tudo: "A interpretação dos sonhos", aquele tijolo monumental que transforma os sonhos de mensagens divinas em vias régias para o inconsciente. "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", que escandalizou a Viena conservadora ao dizer que as crianças têm vida sexual. "Além do princípio do prazer", onde Freud especula, quase filosoficamente, sobre uma pulsão de morte que habitaria todos nós.

Cada texto é uma aventura do pensamento. Freud não oferece respostas prontas — ele nos convida a pensar junto, a duvidar junto, a nos espantarmos junto com as descobertas que o inconsciente revela.

Uma curiosidade de professor para vocês

Já que estamos entre alunos e colegas de estudo, deixo aqui uma curiosidade importante: a edição da Imago que disponibilizo foi traduzida a partir do inglês, não do alemão original. Isso gerou algumas diferenças interessantes.

Por exemplo: onde Freud escreveu simplesmente Ich, Es e Über-Ich (eu, isso, super-eu — palavras cotidianas que qualquer alemão usava), a tradução traz "Ego", "Id" e "Superego", termos latinizados que soam mais técnicos. Onde ele escreveu Trieb (pulsão, impulso que se transforma), aparece "instinto", que é mais biológico. São nuances que vale a pena conhecer — não para descartar a tradução, mas para ler com olhar atento, sabendo que entre Freud e nós há camadas de mediação.

(Se um dia quiserem se aprofundar nisso, a edição da Companhia das Letras, traduzida direto do alemão, oferece outra experiência de leitura. Mas a Imago nos formou — e forma ainda — com toda sua história e seus encantos.)

Para vocês, meus alunos e parceiros de estudo

Disponibilizo aqui a mesma edição que me formou, aquela que li com as anotações do meu pai nas margens. Não é perfeita, mas é viva. É a psicanálise que chegou ao Brasil, que atravessou gerações, que ainda pulsa nas páginas amareladas.

Leiam Freud como quem lê um grande escritor — porque é isso que ele é. Leiam para entender a psicanálise, mas também para encontrar beleza, ironia, questionamento. Leiam e façam suas próprias anotações nas margens. Discordam? Ótimo, anotem. Concordam? Sublinhem. Ficaram com dúvida? Marquem com interrogação.

Que vocês possam, como eu pude, construir sua própria conversa com Freud — e comigo, e com todos que vieram antes.

A psicanálise se transmite assim: página por página, dúvida por dúvida, descoberta por descoberta.

Boa leitura. E que as margens dos textos sejam generosas com vocês.



[Aqui seguem os links/arquivos da edição Imago]

O arquivo acima compila todas as edições em um só PDF.

Os livros separados seguem abaixo:



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